"Só porque algo pensa diferente, podemos dizer que esse algo não pensa?" Alan Turing, matemático personagem principal de "O Jogo da Imitação"
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| Cena do filme "O jogo da Imitação" |
Vivemos uma síndrome da padronização e homogenização dos costumes e da forma de pensar. Síndrome essa que não é característica exclusiva de nossa sociedade moderna (apesar de moderna), desde sempre, desejamos separar a humanidade entre bárbaros e civilizados, entre nós e os outros, e nesta separação são impostos os sistemas culturais, modo de agir ou pensar de uma determinada sociedade ou grupo que julga-se "certa" em detrimento de outras formas de cultura.
Eis aqui uma temática muito cara no campo da antropologia, o conceito de Etnocentrismo, quando afirma um determinado grupo que sua cultura, seus costumes, sua língua, religião, enfim, seus sistema de representação do mundo, seus arranjos sociais são mais importantes, maiores ou simplesmente tratarem como se fossem a "verdade" em relação ao que a cultura e ao modo como pensa ou age o "outro".
Assim agiram os europeus na conquista das Américas, quando viram "os outros", isto é, os índios que aqui habitavam e não possuíam os mesmos costumes. Assim agiram os nazistas, quando e com objetivo de apregoar uma sociedade ariana, mataram os que não tinham tais atributos, que não se encaixavam no mundo idealizado, no mundo considerado perfeito e "normal".
Porém como já dito acima, o ato de considerar o outro "não humano", "não dos nossos", "não eu", não é exclusividade de uma época ou sociedade.
Em meio a Segunda Grande Guerra Mundial, uma outra civilização praticou atos, com as mesmas características, estes foram os ingleses. Assim como nos conta o filme "O Jogo da Imitação", o longa metragem baseados em fatos reais, fatos esses que se passaram durante a Guerra, relata como o matemático Alan Turing, decifrou os códigos de comunicação dos nazistas, sendo assim essencial para promover o fim da guerra.
Alguns detalhes chamam à atenção ao longo do filme, tais como o comportamento "esquisito" (palavra usada aqui entre aspas e de forma proposital para fomentar a reflexão do que é "normal" ou "anormal"), pouco sociável, comportamento que não se encaixava nos padrões ditos normais. No desenrolar da trama, é revelado a homossexualidade do matemático. (não prosseguirei, para não cometer a gafe de expor detalhes importantes, para quem ainda não assistiu)
Após ter sua " homossexualidade descoberta" (outro termo usado de forma proposital), claro, Alan, sofre perseguições, ameaças e punições por conta de sua orientação sexual. Eis mais um exemplo de como a humanidade trata e desumaniza quem não encaixa-se dentro dos padrões ditos normais. Quem não estava dentro dos padrões da sociedade idealizada pelos nazistas era sumariamente torturado e morto, porém ainda hoje, tomamos as mesmas atitudes, desconsideramos sua humanidade, assim de igual maneira, matamos os que não "se encaixam".
Porém, Alan, realizou um feito histórico, que poupou a vida de milhões de seres humanos. Um frase dita no filme poderia resumi-lo de forma completa:
"Ninguém normal teria feito aquilo...", dita por uma das personagens ao matemático, se referindo ao feito de decodificar os códigos.
Quando não consideramos o outro, digno dos mesmos direitos que os nossos, quando não consideramos o outro tão "seres humanos" quanto nós, apenas por pensarem e agirem de maneira diferente do que consideramos o certo, estamos agindo como bárbaros, como brilhantemente nos afirma Tzvetan Todorov:
"A recusa de considerar visões do mundo diferentes da nossa separa-nos da universalidade humana e mantém-nos mais perto do polo da barbárie. Em compensação, progredimos na civilização ao aceitarmos ver que os representantes de outras culturas têm uma humanidade semelhante à nossa"
Ass: Leonardo Ferreira (http://observatoriodaopressao.blogspot.com.br/)

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